sexta-feira, 21 de abril de 2017

Tecido


Respeitei o silêncio, apesar da minha curiosidade. Meu desejo de saber que estava tudo bem ou tudo indo mal. Tantas mudanças aconteceram com a cumplicidade, desde a grande necessidade de mantê-la até mesmo os intervalos quase invisíveis, que talvez apenas eu tenha sentido. Em todas as conversas, duas pessoas aparentemente mais frias e racionais, deixavam suas máscaras caírem e entre risos e filosofias construíam o tecido que hoje as une. Amizade é entender a quietude, assim como se aturar os barulhos por ela produzidos.

Narrador observador é o que sou, não me deixo envolver. As histórias que presencio se entrelaçam, e a maioria delas é construída com furos. Chamo atenção para alguns afastamentos entre os pontos dados pela agulha. As máscaras caídas durante cada conversa eu guardei nas minhas lembranças, pois não é todo dia em que podemos conhecer as metades das pessoas. Os bancos da escola ainda possuem marcas de tênis, dos momentos em que vocês sentaram de perna cruzada e me deixaram ouvir seus pensamentos sem ressalva.

Quando o ano acabou o que me sobrou foram as conversas de Whatsapp que passaram e ainda acontecem. No interior do peito já bateu saudade daquele jeito cheio de vergonha de vocês antes de falar algo sério, muito antes de ficarem à vontade, mesmo sem nada pra expressar. O silêncio já não significa afastamento, significa pausa e respirar pra assimilar. Talvez seja brega, porém posso afirmar que as respirações coincidiam, juntamente aos olhares.

Não se trata de romance. Mesmo que fosse, podemos concordar que nem todo romance consegue evoluir para tal ponto. Os devaneios presentes nesta carta que escrevo referem-se a duas pessoas que conheceram-se durante anos e agora com a distância permanecem com seus corações ligados. Não se trata de romance, mas sim de carinho e respeito por uma memória construída de forma coletiva. Trata-se de fotos de caderno compartilhadas, músicas ouvidas em conjunto. Trata-se de uma blusa emprestada. Refere-se a amigos e o que devemos compartilhar com eles.

Graças a norma da língua chamo meus personagens ora de "eles" - quando uso "amigos" no seu sentido mais genérico - ora de "elas" - quando pessoas -. Você sabe o quanto adoro um melodrama em meus escritos, portanto posso destrinchar a identidade daqueles que vi ou fui, no futuro (ou não). Adoro metáforas e mistérios, mesmo que talvez cometendo algum deslize em minha técnica, peço-te que me avise rápido para continuar enfeitando meus pensamentos. É a beleza de utilizar o e-mail.

Deixo agora meu silêncio, minha pausa com a agulha. A lição daquilo que observei já aplicamos faz tempo, mas gosto de me enxergar nos outros, de exercitar. Até breve.

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